Prémio Literário 2025
16/01/2025
Inauguração: 23 de janeiro, 18h00
Excertos de correspondência entre Marcos Duvágo e Ricardo Marcelino, em resposta ao aparecimento do título da exposição:
Se com um passo firme, caminhas insurreito, entre o caos e a ordem de uma escolha que não te lembras de ter feito, sem olhar em volta, decidido.
A cada passada mais te afundas, como o fazem o teu olhar e cada traço do teu cavado rosto; para o centro desta terra precipitas no andar o teu semblante, e a cada um, mais te diluis… nesse meio onde vês o teu corpo se mexer, atolando-te. Há nesse movimento um espiralar em nada entrópico, em torno de ti mesmo com todo fulgor, como o faz em seu genésico propósito um parafuso na base onde gira e se fixa.
Não fazes qualquer esforço para de lá sair, todo o movimento por ti inaugurado de entre a letargia do resto é por ele, em direção a ele, e é ele motor e fonte da interrupção dessa tua inércia. Ele é teu, o hiato de tudo, impermutável: o vício, a tara, o objecto do teu desejo, a imagem sem freio que te revisita incessantemente; tudo isso, fazendo a tua antiga vida, os teus outros sítios, os teus outros costumes, os teus oficios e os teus outrora amigos — como que de outra vida — pairarem em torno do que sobra de ti, de longe, como abutres sob uma carcaça, à espera que um dia voltes.
É teu, esse fado, esse fim; assim como o é o caminho, o que nele viste… o que tiveste e quiçá tens ainda de fazer. O que contigo se deita, todas as noites, na cama que fizeste, e um dia outro, em tom mudo e assoberbado de uma private joke, levarás para a cova.
Ele foi te proposto, e desde então…
é ele o teu propósito.
É ele o teu final, o derradeiro e único, o único que te interessa.
Aquele com o qual te afundas.
— O teu fim.
Marcos Duvágo
A-fundo no fim é uma exposição. Uma mostra de trabalhos cujo processo tem em mente o mergulho no fim. O aparecimento é necessidade pictórica e lumínica, são pinturas e fotografias.
São aparecimentos que surgem através da necessidade. Aparecimentos: pela intensidade que provoca o inusitado musical, uma harmonia em grito.
O fim é o aparecimento da tensão da relação e do presente. É A-fundo no fim que fizemos estes trabalhos. É com esse estado que lidamos quando os fazemos. É nesse estado que tentamos permanecer. É sobre isso.
Ricardo Marcelino
Patente até 22 de fevereiro
Segunda-feira a sábado
15h00 – 20h00
Galeria Santa Maria Maior > Rua da Madalena, 147