A-fundo no fim

Exposição de pintura e fotografia
Ricardo Marcelino e Marcos Duvágo

 

Inauguração: 23 de janeiro, 18h00

 

Excertos de correspondência entre Marcos Duvágo e Ricardo Marcelino, em resposta ao aparecimento do título da exposição:

 

Se com um passo firme, caminhas insurreito, entre o caos e a ordem de uma escolha que não te lembras de ter feito, sem olhar em volta, decidido.

A cada passada mais te afundas, como o fazem o teu olhar  e cada traço do teu cavado rosto; para o centro desta terra precipitas no andar o teu semblante, e a cada um, mais te diluis… nesse meio onde  vês o teu corpo se mexer, atolando-te. Há nesse movimento um espiralar em nada entrópico, em torno de ti mesmo com todo fulgor, como o faz em seu genésico propósito um parafuso na base onde gira e se fixa.

Não fazes qualquer esforço para de lá sair, todo o movimento por ti inaugurado de entre a letargia do resto é por ele, em direção a ele, e é ele motor e fonte da interrupção  dessa tua inércia. Ele é teu, o hiato de tudo, impermutável: o vício, a tara, o objecto do teu desejo, a imagem sem freio que te revisita incessantemente; tudo isso, fazendo a tua antiga vida, os teus outros sítios, os teus outros costumes, os teus oficios e os teus outrora amigos — como que de outra vida — pairarem em torno do que sobra de ti, de longe,  como abutres sob uma carcaça, à espera que um dia voltes.

É teu, esse fado, esse fim; assim como o é o caminho, o que nele viste… o que tiveste e quiçá  tens ainda de fazer. O que contigo se deita, todas as noites, na cama que fizeste, e um dia outro, em tom mudo e assoberbado de uma private joke, levarás para a cova.

Ele foi te proposto, e desde então…

é ele o teu propósito.

É ele o teu final, o derradeiro e único, o único que te interessa.

Aquele com o qual te afundas.

— O teu fim.

Marcos Duvágo

 

 

A-fundo no fim é uma exposição. Uma mostra de trabalhos cujo processo tem em mente o mergulho no fim. O aparecimento é necessidade pictórica e lumínica, são pinturas e fotografias.

São aparecimentos que surgem  através da necessidade. Aparecimentos: pela intensidade que provoca o inusitado musical, uma harmonia em grito.

O fim é o aparecimento da tensão da relação e do presente. É A-fundo no fim que fizemos estes trabalhos. É com esse estado que lidamos quando os fazemos. É nesse estado que tentamos permanecer. É sobre isso.

Ricardo Marcelino

 

Patente até 22 de fevereiro
Segunda-feira a sábado
15h00 – 20h00

 

Galeria Santa Maria Maior > Rua da Madalena, 147