COMUNICADO | Arraial na Praça do Município

 

A Freguesia de Santa Maria Maior tem um território muito diversificado e que comporta no seu interior zonas com características muito distintas umas das outras. É essa diversidade em termos urbanísticos e culturais que faz a sua riqueza e que urge respeitar e preservar.
Os arraiais dos Santos Populares são, como o próprio nome indica, festividades típicas dos chamados “bairros populares”, tradicionalmente promovidas pelas coletividades locais, que conseguem através deles os recursos necessários para, durante o resto do ano e com o apoio da Junta de Freguesia, prestarem os seus serviços às populações.
A autenticidade destas festividades, feitas na sua maioria pelos moradores dos bairros onde decorrem, é um fator crítico do seu sucesso e constitui também um momento muito relevante para a economia local.
Preservar as tradições cuja origem se perde no tempo, velar pela sua autenticidade, apoiar as economias locais e zelar pela adequada utilização do espaço público deveriam ser objetivos e preocupações de todas as entidades públicas de base territorial, nomeadamente da Câmara Municipal de Lisboa.
Foi, assim, com alguma perplexidade, que a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior tomou conhecimento da realização, na própria Praça do Município, de um arraial de sardinha assada promovido por uma entidade privada e com o beneplácito da Câmara Municipal de Lisboa.
Esta perplexidade estende-se ao pretenso arraial, também autorizado pela Câmara Municipal de Lisboa, que ocorrerá nas docas, um arraial promovido pela mesma entidade comercial e que inevitavelmente concorrerá contra os arraiais populares de Alfama, promovidos pelas coletividades e população.
Nunca a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior licenciou arraiais fora do seu espaço natural e tradicional e muito menos em áreas do território que, pela sua monumentalidade e dignidade arquitetónica e institucional, deverão ser utilizadas para outras funções.
A iniciativa de promover um arraial de sardinha assada para que uma entidade privada possa fazer concorrência às coletividades e às pessoas dos verdadeiros bairros populares, desvirtuando uma tradição secular e abastardando festejos que têm um cariz e uma autenticidade que importa acarinhar e preservar não pode, por isso, deixar de merecer a condenação da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.
Certamente ninguém acharia adequado que o próximo 5 de Outubro fosse celebrado na Rua das Farinhas ou no Largo do Salvador. Festejar os Santos Populares na Praça do Município num arraial promovido por um qualquer operador turístico é uma decisão igualmente desadequada e que só revela uma enorme falta de respeito pelas populações que aqui vivem e trabalham e, até, pela integridade do património desta Freguesia.

 

Lisboa, 1 de junho de 2022