Ponto 2 – Rua da Mouraria

Pelas sombras da noite surgem trinares de fado. São guitarras que se escondem nas tabernas e vielas. Uma delas esteve por detrás da história da guitarra mais famosa da Mouraria. Sozinha, a chorar o pranto da solidão, caiu às portas da Mouraria e ali ficou, na entrada do bairro, como se pedisse ao abandono para ser tocada pelas mãos das ruas.  Até que um velho rufia a levou para o Museu de Antiguidades que Fernando Maurício visitou e onde se preserva a saudade. Mas ali, às portas da Mouraria, a velha guitarra continua a trinar a melodia do passado – dando a cara pelo bairro como se dela dependesse o fado.

Ricardo Gonçalves Dias

 

HISTÓRIA DE UMA GUITARRA

Uma guitarra velhinha
Porque já ninguém a queria
Morreu a chorar sozinha
Às portas da Mouraria

Fui há dias visitar
O museu de antiguidades
Em tudo havia saudades
Vontade de regressar

Em tudo pude notar
Infinita nostalgia
Mas entre o que lá havia
Lembro a tristeza que tinha
Uma guitarra velhinha
Porque já ninguém a queria

Curioso, quis saber
Como ali tinha chegado
Se havia do meu passado
Alguma coisa a dizer

Com voz sentida, a tremer
Da confissão que fazia
Disse-me um velho rufia
Esta banza, coitadinha
Morreu a chorar sozinha
Às portas da Mouraria

Conde de Sobral

 

 

 

Lisboa Mauriciana

 

Roteiro mauriciano que nos conduz num percurso pontilhado entre o coração de Alfama e a Mouraria fadista. Da palmeira à guitarra, passando pelo cruzeiro do adro da Igreja Santo Estêvão e pelo sótão da Amendoeira, de olhos postos no Tejo, pensando a cidade, conhecendo ou relembrando a vida e obra do Rei sem Coroa, Fernando Maurício.

Em cada ponto, um poema. Em cada poema, um Fado, uma relação com o espaço, uma pista sobre Maurício.

Lisboa Mauriciana é um projeto da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que presta homenagem ao Rei do Fado e que se complementa com o busto erguido em 2014 pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, na Rua da Guia, e com a Casa-Museu Fernando Maurício, equipamento cultural gerido pela Junta de Freguesia desde 2015.

 

 

 

 

CASA-MUSEU FERNANDO MAURÍCIO  |  LISBOA MAURICIANA