3ª Grande Corrida de Ano Novo
02/10/2024
É joia sem valor porque o preço não lhe depende. Para a Mouraria nem o haverá, ficando bem nesse áureo cofre. Quem lá mora entende isso, e leva-se a protegê-la embora saiba que lá se sofre. É por isso que neste bairro, embaladas num sonho lindo, as lágrimas batem no basalto como pérolas. Pérolas como as pessoas que o choram são: mais joias desse áureo cofre onde Fernando Maurício aprendeu que, sofrendo, estava a saber cantar a sua verdadeira Mouraria.
Ricardo Gonçalves Dias
NA MOURARIA
Na velha Mouraria é onde eu moro
Qual joia sem valor em áureo cofre
Agora é lá que eu sofro, canto e choro
Como um fadista chora, canta e sofre
Embala-me à janela num sonho lindo
Do fado suspirando à luz da Lua
E as lágrimas que choro vão caindo
Quais pérolas de mágoa sobre a rua
Perpassa o sentimento português
Naquelas ruas tristes e bizarras
E sobre as tuas pedras muita vez
Eu julgo ouvir trinar, velhas guitarras
Na minha vida incalma de fadista
Eu sinto dentro d’alma noite e dia
Vibrar alegremente a fé bairrista
De quem sabe sofrer na Mouraria
Gabriel de Oliveira*
Roteiro mauriciano que nos conduz num percurso pontilhado entre o coração de Alfama e a Mouraria fadista. Da palmeira à guitarra, passando pelo cruzeiro do adro da Igreja Santo Estêvão e pelo sótão da Amendoeira, de olhos postos no Tejo, pensando a cidade, conhecendo ou relembrando a vida e obra do Rei sem Coroa, Fernando Maurício.
Em cada ponto, um poema. Em cada poema, um Fado, uma relação com o espaço, uma pista sobre Maurício.
Lisboa Mauriciana é um projeto da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que presta homenagem ao Rei do Fado e que se complementa com o busto erguido em 2014 pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, na Rua da Guia, e com a Casa-Museu Fernando Maurício, equipamento cultural gerido pela Junta de Freguesia desde 2015.
CASA-MUSEU FERNANDO MAURÍCIO | LISBOA MAURICIANA
*Errata: Na placa instalada na Rua da Guia, onde se lê Conde Sobral, deve ler-se Gabriel de Oliveira.