Ponto 5 – Rua Marquês Ponte de Lima

 

A história de Carlos Conde reza assim: certas horas os sussurros da vizinhança esvaneciam-se e os olhares procuravam aquele típico sótão da Rua da Amendoeira. De cima, com a mesma graça que dava ao fado, a Matilde cantava para a Mouraria. A sentença do tempo fez do sótão esconso e sujo, mas não retirou da memória a voz que, a certas horas, surgia na Rua da Amendoeira e punha os olhares a olhar para cima para encontrar o sótão mais típico da Mouraria.

Ricardo Gonçalves Dias

 

SÓTÃO DA AMENDOEIRA

Naquele típico sótão
Sob as telhas mais antigas
Da Rua da Amendoeira
Inda há traços que denotam
O sabor dado às cantigas
Pela Matilde cantadeira

Airosa mas inconstante
A Matilde dava ao Fado
A graça de outros estilos
No velho café cantante
Que ficava mesmo ao lado
Da Estalagem dos Camilos

No sótão esconso e sujo
Três sombras, porte ufano
Espreitam a Mouraria
As lágrimas dum Marujo
Os ciúmes dum Cigano
E os remorsos de um Rufia

Senti presos os meus pés
Mas desviei o caminho
E quedei-me ali à beira
Só para ver outra vez
Aquele sótão velhinho
Da rua da Amendoeira

Carlos Conde

 

Lisboa Mauriciana

 

Roteiro mauriciano que nos conduz num percurso pontilhado entre o coração de Alfama e a Mouraria fadista. Da palmeira à guitarra, passando pelo cruzeiro do adro da Igreja Santo Estêvão e pelo sótão da Amendoeira, de olhos postos no Tejo, pensando a cidade, conhecendo ou relembrando a vida e obra do Rei sem Coroa, Fernando Maurício.

Em cada ponto, um poema. Em cada poema, um Fado, uma relação com o espaço, uma pista sobre Maurício.

Lisboa Mauriciana é um projeto da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que presta homenagem ao Rei do Fado e que se complementa com o busto erguido em 2014 pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, na Rua da Guia, e com a Casa-Museu Fernando Maurício, equipamento cultural gerido pela Junta de Freguesia desde 2015.

 

 

 

 

CASA-MUSEU FERNANDO MAURÍCIO  |  LISBOA MAURICIANA