Ponto 6 – Rua de São Cristóvão

 

Há muitas formas de noite. Se chega melancólica estala-se em destroços de uma paixão vivida a sós, e a solidão das horas escuras não se despede sem razões. De uma janela de um recanto de bairro – é por aqui que ela entra. Encara quem sofre vestida da noite, sendo metáfora de uma dor que só num fado se suporta. Jorge Fernando, ao escrever este poema, quis despedir a solidão sabendo que, depois de partir, só se fica um pouco mais só. Porque quando ela volta a fechar a janela a noite ainda tem de continuar.

Ricardo Gonçalves Dias

 

BOA NOITE SOLIDÃO

Boa noite solidão
Vi entrar pela janela
Teu corpo de negrura
Quero dar-te a minha mão
Como a chama duma vela
Dá a mão à noite escura

Os teus dedos solidão
Despenteiam a saudade
Que ficou no lugar dela
Espalhas saudade pelo chão
E contra a minha vontade
Lembras-me a vida com ela

Só tu sabes solidão
A angústia que trás a dor
Quando o amor a gente nega
Como quem perde a razão
Afogando o nosso amor
No orgulho que nos cega

Com o coração na mão
Vou pedir-te sem fingir
Que não me fales mais dela
Boa noite solidão
Agora quero dormir
Porque vou sonhar com ela.

Jorge Fernando

 

Lisboa Mauriciana

 

Roteiro mauriciano que nos conduz num percurso pontilhado entre o coração de Alfama e a Mouraria fadista. Da palmeira à guitarra, passando pelo cruzeiro do adro da Igreja Santo Estêvão e pelo sótão da Amendoeira, de olhos postos no Tejo, pensando a cidade, conhecendo ou relembrando a vida e obra do Rei sem Coroa, Fernando Maurício.

Em cada ponto, um poema. Em cada poema, um Fado, uma relação com o espaço, uma pista sobre Maurício.

Lisboa Mauriciana é um projeto da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que presta homenagem ao Rei do Fado e que se complementa com o busto erguido em 2014 pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, na Rua da Guia, e com a Casa-Museu Fernando Maurício, equipamento cultural gerido pela Junta de Freguesia desde 2015.

 

 

 

 

CASA-MUSEU FERNANDO MAURÍCIO  |  LISBOA MAURICIANA