Edição Limitada | Ano 3
02/12/2024
Santo António não se acabou! A festa segue com marchas em Santa Maria Maior. No próximo dia 6 de julho, sábado, pelas 21h00, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior traz ao Largo José Saramago – Campo das Cebolas as marchas da freguesia que integraram o concurso das Marchas Populares de Lisboa, a marcha infantil e uma marcha convidada, como já manda a tradição.
A Marcha Infantil de Santa Maria Maior abre a festa e canta o Tejo. De Coimbra, chega a marcha convidada, a Marcha Popular de Eiras. A partir daqui, o espetáculo é das marchas que integraram o concurso das Marchas Populares de Lisboa em 2024: começa a Marcha de Alfama, com “Meu amor marinheiro!”, avançamos para “Um lugar, um mercado, uma praça…” pela Marcha da Baixa, festejamos as “Noites mouras no Castelo” e findamos celebrando “O nosso orgulho, Mouraria!”.
As Marchas na Rua são uma iniciativa cultural da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que pretende valorizar ainda mais esta tradição popular e os bairros históricos da cidade, chamando à freguesia todos quantos queiram conhecer as suas marchas ou ter uma derradeira oportunidade de assistir à exibição preparada para o ano de 2024 por cada uma das marchas participantes. Santa Maria Maior encerra assim, em festa e com o que de melhor aqui se faz, as festas populares.
Marcha Infantil de Santa Maria Maior
A Marcha Infantil de Santa Maria Maior é um projeto iniciado em 2023 para transmitir o património cultural e identitário entre gerações. Erguendo o tema “Santa Maria Maior canta o Tejo” com os seus figurinos, adereços e coreografia, a Marcha Infantil de Santa Maria Maior é um projeto da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que reflete uma parceria reforçada com a Academia de Recreio Artístico (coletividade organizadora da Marcha da Baixa), Centro Cultural Dr. Magalhães de Lima (coletividade organizadora da Marcha de Alfama), Grupo Desportivo do Castelo (coletividade organizadora da Marcha do Castelo) e Grupo Desportivo da Mouraria (coletividade organizadora da Marcha da Mouraria). O futuro das tradições populares está nas crianças!
Freguesia ribeirinha, de docas e chafarizes, Santa Maria Maior bebe do Tejo a sua História. Ao longo dos séculos, ora dele se espraia, ora nele desagua. Do Tejo são as profissões que marcaram gerações e modos de vida, são os mais belos poemas, histórias de amor e despedidas. De Alfama à Mouraria, subindo ao Castelo ou ao Chiado pela Baixa, o rio em tudo se faz presente – até na voz. Neste que é o coração de Lisboa, canta-se o Tejo nos versos dos fadistas e nos pregões das varinas, cada letra como uma gota deste rio que nos molda. E é assim, que em cada esquina e em cada passo, dos pais aos filhos que o hão-de ser, Santa Maria Maior, ainda hoje, canta o Tejo.
Marcha Popular de Eiras – Coimbra (marcha convidada)
Este ano a Marcha Popular da Freguesia de Eiras defenderá o tema “A vida é da cor que a gente pinta”. O arco-íris simboliza a vida, a esperança, a beleza e a família – e que bonita é a esta família da Marcha de Eiras! Que a vida de todos os presentes nesta noite seja como o arco-íris, é a mensagem que a marcha convidada pretende transmitir. Esta marcha conta com 60 elementos e é organizada pela Marcha Popular de Eiras – Associação sem fins lucrativos.
Marcha de Alfama
Presença habitual nas Marchas Populares de Lisboa, Alfama está também entre os seis bairros que em 1932 inauguraram esta tradição. Organizada pelo Centro Cultural Dr. Magalhães Lima desde 1983, este ano a Marcha de Alfama apresenta-se com o tema “Meu amor marinheiro!”.
Talvez ficasse bem a este retrato da história perguntar o que disse o Mundo vendo mais um Português a navegar. Lá vai ele, na dobra das rotas – as mais incertas – encarando um destino feito à vontade dos mares. E o que disse Alfama? Disse, não. Antes sentira a inquietação de ser cais de um país inteiro e já se sabe: é condição que serve para partir e para chegar. Alfama, de frente para o Tejo, parece que nasceu para ficar a contas com o rio. Mas não: é paciente apenas. Se deixou que daqui partissem para que se chegasse ao Mundo, também deu a boa troca para que aportassem nela. Não admira que as contas estejam certas com o destino. Mas qual? Há quem a trate como mulher e sim, pode sê-la, porque chegou-se a perguntar se Alfama aguentou. Aguentou sempre. Empederneceu o pranto que ficava no cais guardando o lenço da despedida e da promessa, e desprazida volta ao bairro com saudade do amor que partiu. Não vira o rosto ao Tejo, antes faz por lhe entender a demora. Tanto que quando o amor regressa parece que nunca saiu do cais por ele esperando, esperando sempre. Mas o destino tinha outra ideia – ou o Tejo, não se sabe bem. Tanto punha Alfama à espera do regresso, como trazia quem, vencendo o horizonte, se deslumbra na proa ao ver-lhe o casario pela primeira vez. E é aqui que a história começa.
Marcha da Baixa
“Um lugar, um mercado, uma praça…”, a Praça da Figueira, onde figura a estátua equestre de bronze de D. João I. Situada na Baixa de Lisboa, nas proximidades da Praça D. Pedro IV, antes do Terramoto de 1755 era o local do Hospital de Todos-os-Santos. Nessa altura, havia a falta de um mercado central e então o Marquês de Pombal viu naquele local a oportunidade para resolver esse problema. Assim no final de 1775, o terreno da Praça da Figueira foi doado à cidade de Lisboa por decreto régio de D. José sob a condição de ali se concentrarem as vendas de frutas, hortaliças e aves de capoeira.
Nasce assim na praça (então a Praça da Erva) um mercado a céu aberto, sobre terra batida, que depois dá lugar à construção de pequenas barracas e à escavação de um poço (num lugar onde havia uma figueira), o Poço do Borratém. Ao longo dos anos, aquele espaço que ainda deu pelo nome de Praça Nova, antes de chegar à designação atual foi recebendo os melhoramentos trazidos pelo tempo. Em 1834 foi arborizado e instalada iluminação. Em 1849 foi fechado com grades de ferro. Esta construção haveria de ir abaixo em 1883 e dois anos depois surge o novo mercado, inaugurado com pompa e circunstância, na presença da família real. É esta praça, é esta história que a Marcha da Baixa conta, cantando os costumes e exibindo as tradições.
Marcha do Castelo
A Marcha do Castelo desfila desde 1935 e faz lembrar a história do bairro, em tempos que não podem ser esquecidos.
Nas antigas terras lisboetas, o Castelo testemunhava silenciosamente histórias de amor e celebração. Sob um manto estrelado, Mouros e Mouras encontravam-se nas noites festivas que faziam o castelo vibrar. Nas “Noites mouras no Castelo”, as muralhas ecoavam música, risos e cumplicidades, onde as famílias se reuniam, exibindo a riqueza cultural pela cidade de Al-Ushbuna. Em trajes ricamente ornamentados, dançavam e celebravam a vida, tecendo juntos a tapeçaria de uma herança que hoje reverbera nas pedras do Castelo. A cada passo, a cada nota musical, a harmonia entre eles pintava a cidade com tons de alegria e tradição. Ao relembrarmos estas noites, celebramos histórias de amor que se entrelaçaram nas velhas muralhas, dando vida a Lisboa.
Marcha da Mouraria
Situada no coração de Lisboa, a Mouraria traz a alma da cidade, envolta em tradição e modernidade. Nas suas típicas ruas um passado de influências. As fachadas coloridas e de azulejos contam as suas histórias. Os cheiros da culinária local difundem-se pelo ar, trazendo apetite e curiosidade. Um caldeirão cultural onde a tradição entrelaça com as influências. O fado ecoa nas suas vielas. Reflete a alma do bairro e a resiliência do seu povo. A Mouraria é um local de encontros e partilhas. Os residentes orgulham-se dos seus liames enquanto acolhem aqueles que se aventuram a explorar este pedaço fascinante de Lisboa. Não é um simples bairro. É essência. Da cidade e da sua secular história.
O bairro está orgulhoso de quem é e do que tem para mostrar. Da beleza das fachadas coloridas, varandas ornamentadas e os azulejos que as adornam. Mas também das suas gentes que são “abraço e casa”. É nesse acolhimento que a marcha diz: “Welcome to Mouraria!”. Aqui, onde a multiculturalidade é História e presente, recusa-se o fecho de portas e corações. Pelo contrário, é feito o convite para conhecer “um bairro que recebe bem”. A Mouraria mostra-se como é, numa cidade onde na calçada “rolam malas e gente”. Na marcha multiplicam-se as saudações em vários idiomas, dos mais próximos e conhecidos aos mais incomuns. A quem se destinam? A todos: aos que visitam a Mouraria e aos que, vindos de todo o Mundo, fazem do bairro casa.
Com 40 anos de carreira e uma plasticidade infinita na voz, Fernando Pereira, o artista das vozes, é o apresentador do desfile Marchas na Rua, em Santa Maria Maior.
A animação não vai faltar!
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6 de julho (sábado), 21h00
Largo José Saramago – Campo das Cebolas
Entrada livre