Lançamento dos livros O próximo porto, cartografia de uma miragem, de MariaAngelina, e Visita Guiada, de Jorge Silva, na Galeria Santa Maria Maior, no próximo dia 23 de junho (quinta-feira), pelas 18h.

 

O próximo porto, cartografia de uma miragem
MariaAngelina

 

Sinopse:

O próximo porto foi realizado a bordo da fragata portuguesa Corte-Real, entre julho e dezembro de 2020, durante uma missão de patrulhamento nas costas do Báltico e do Mar do Norte. Estávamos no início da pandemia Covid19, com o confinamento geral por toda a Europa e ficámos, por isso, impedidos de desembarcar em qualquer dos portos onde atracamos.
A tensão e o descontentamento eram os sentimentos dominantes entre a guarnição, 190 militares em confinamento mudo, qual barril de pólvora à deriva. Por outras palavras, uma situação que, em condições normais, já implicaria um isolamento considerável, tornou-se, pela força deste confinamento global, esmagadora.
Nesta edição, desenvolvo três linhas narrativas distintas, ainda que com momentos de sobreposição pontual. Uma primeira linha mais descritiva, mostra de forma fragmentada, o espaço constrito do navio, num vislumbre do equipamento e das manobras como parte do complexo industrial naval por um lado, e como plataforma de observação, de pesquisa visual e espacial por outro.
Uma segunda linha narrativa, dá-nos conta do gesto repetido, de aproximação ao porto. As várias cidades que fotografo do mar, na sua interioridade luminescente, inatingíveis como miragens.
A terceira linha tem um caráter mais evocativo e pessoal, procurando traduzir a carga emocional da experiência, este confinamento interior, remoto, pesado, sem rosto.
Com este entrelaçado, procuro tecer uma narrativa cuja tensão estética reflita o contraste dos múltiplos planos da minha observação a bordo. Procuro devolver o leitor à sua própria interioridade submersa, esquecida.

MariaAngelina, Outubro 2021

 

Nota biográfica:

Elisabete Maria Angelina nasceu em 1978 em Lisboa. Ingressou na Marinha de Guerra Portuguesa em 2001 para a Classe de Abastecimento. Exerceu funções na área financeira passando pelo Hospital da Marinha, Estado-Maior da Armada e Superintendência das Finanças.
Em Fevereiro de 2018 foi nomeada fotógrafa do Arquivo de Identificação da Marinha realizando o retrato para os documentos de identificação dos militares bem como o registo fotojornalístico de todo o cerimonial militar da Unidade Naval de Alcântara. Entre julho e dezembro de 2020 esteve embarcada ao serviço da Standing Nato Maritime Group 1 como fotógrafa oficial. Atualmente é fotógrafa do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

 

 

 

Visita guiada
Jorge Silva

 

Sinopse:

Visita Guiada é uma pesquisa sobre a memória – sobre a forma como a fotografia pode aceder (ou até moldar) a memória.
Sendo que a fotografia é, pela sua natureza, refém do momento presente, da chamada realidade objetiva que usa como matéria, surge a pergunta obrigatória: é possível ter a memória como objeto fotográfico? Esta questão deriva da experiência do fotógrafo já que para o espetador, a fotografia é, por oposição necessária, uma contemplação sobre o passado.
À luz deste paradoxo, o fotógrafo projeta, no mesmo plano, o mundo onírico e o mundo sensível. Numa sobreposição de estranheza e familiaridade, vai sintetizando o tempo e o lugar, destilando os elementos visuais da paisagem – a cor, o ritmo, as texturas – que traduz por abstração plástica em imagens. É a memória também uma coleção destilada de elementos que relacionamos num acesso criativo?
O trabalho foi desenvolvido ao longo de três anos (de 2016 a 2019) durante os quais o autor revisita lugares significativos da sua infância e adolescência. A narrativa base – intrigante contemplação da estranheza paisagística – é entrecortada com retratos de pessoas do seu núcleo familiar (com maior protagonismo da figura materna), apresentadas ao longo do livro como que cicerones numa Visita Guiada.

 

Nota biográfica:

‘Toda a minha vida me senti observador das pessoas e das coisas do mundo. Primeiro através da música, depois do ensino. Nos últimos 10 anos através da camara.”
Jorge foi músico na Banda da Armada Portuguesa, tendo feito a sua formação no Conservatório Nacional e na Academia Nacional Superior de Orquestra. A par da sua atividade na Armada, acumulou experiências diversas no ensino da música.
Em 2013 completa o curso profissional no Instituto Português de Fotografia. Em 2015 desenvolve, em parceria com a Associação NÓS, um ensaio sobre o ensino especial e a criança com deficiência, que culmina na exposição Cinco. Entre 2016 e 2019 realiza Visita Guiada, um projeto de cariz autobiográfico, uma pesquisa sobre a memória como imagem.
É, desde novembro de 2021, fotógrafo no Museu de Marinha. Nos seus projectos recentes, Jorge explora a relação entre o retrato e a paisagem naconstrução da narrativa fotográfica, com interseção pontual com pequenos estudos documentais. Jorge escreve ensaios sobre fotografia e crónicas que publica no site da Galeria Local, a sua principal plataforma criativa.

Lisboa, 2022