Sorrindo até à morte

Exposição de Nuno Lopes | 5 a 28 de junho

 

Há um silêncio que se insinua nas margens do visível. Um instante suspenso entre o que nasce e o que desaparece — esse limbo subtil onde a obra de Nuno Lopes habita. “Sorrindo até à morte” não é um lamento nem uma despedida. É, antes, um sussurro doce e inquietante sobre a fragilidade da matéria, o humor do efémero e a beleza do que resiste, mesmo quando morre.

Na Galeria Santa Maria Maior, entre os dias 5 e 28 de junho, Nuno Lopes apresenta um conjunto de trabalhos desenvolvidos ao longo do último ano e meio. Nesta exposição, a presença da morte não é trágica, mas contemplativa. Os vestígios do tempo, os sinais de um ciclo que se encerra e recomeça — emergem com uma delicadeza quase silenciosa. Há uma estética do desaparecimento, uma elegância na ruína que não recusa a dor, mas a transforma em matéria visual e poética.

Tudo convida a olhar o fim com uma serenidade contida — ou, talvez, com um sorriso cúmplice da beleza que insiste em permanecer, mesmo na despedida.

O título da exposição remete para uma canção dos Housemartins — The People Who Grinned Themselves to Death — e carrega consigo a mesma ironia melancólica que atravessa as obras aqui reunidas. Não há cinismo, mas um profundo sentido de humanidade. Nuno Lopes não impõe leituras: oferece imagens que respiram, confiando na sensibilidade de quem as contempla.

A memória — esse território íntimo de formas, referências e afetos — é o solo fértil de onde emergem os seus desenhos. São memórias filtradas pela experiência, pela contemplação, pela melancolia e, por vezes, por um humor subtil — esse mecanismo de sobrevivência que suaviza até os dias mais duros.

A sua obra são fragmentos de silêncio, sugestões de um mundo interior onde o tempo adquire outra espessura. No gesto do artista, há uma escuta persistente e silenciosa: uma entrega à imagem que, partindo de fotografias ou ideias pré-concebidas, acaba sempre por revelar percursos não planeados. O desenho impõe o seu próprio ritmo.

“Sorrindo até à morte” não é epitáfio. É escolha. É a afirmação de que, perante o peso do mundo, talvez o mais subversivo seja continuar a sorrir — mesmo que só por dentro. Mesmo que só até ao fim.

 

Galeria Santa Maria Maior > Rua da Madalena, 147
Inauguração a 5 de junho, 18h00
Patente de segunda-feira a sábado, entre as 15h00 e as 20h00, até 28 de junho
Entrada livre.