Não basta pensar

Ana Cristina Dias | Gabriel Garcia | Paula Rousseau | Ricardo Passos

“Não basta pensar” é uma exposição coletiva de arte contemporânea, simultaneamente uma reflexão e um desafio a quem a visita. As salas da galeria de arte da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior são os espaços em que se articulam os trabalhos de Ana Cristina Dias, Gabriel Garcia, Paula Rousseau e Ricardo Passos, numa mostra patente de 9 de março a 1 de abril de 2023.

As memórias, as lutas internas, a consciência, o assumir-se para o exterior, a evolução, a construção e a libertação dão o mote para uma exposição em quatro faces, na Galeria Santa Maria Maior.

Sinopse:

NÃO BASTA PENSAR

convocar quatro vozes não significa, implicitamente, a constituição de um coro. a harmonia poderá nem ser o objectivo. antes descobrir, nas dissonâncias, os timbres próprios capazes de lançar questionamentos que nos façam perceber que… não basta pensar.

não basta pensar!
quando há memórias que insistem ser guião dos dias. quando continuam a passar por eles, com as suas fragrâncias, as suas cores, os seus sussurros como se fossem cantigas de roda. quando as memórias lembram que a felicidade pode ser tão simples quanto mergulhar na natureza. há que sentir a corrente de ar que empurrou o baloiço dos sonhos, recuperar o perfume que embebeu o crescer. e crer, ainda, ser possível saltar para dentro desse tempo onde o acreditar é soberano: a infância.

não basta pensar!
quando se submerge perante o que nos rodeia. quando a linha do tempo se torna incessante sequência de ondulação que obriga ensaiar uma respiração de resistência. quando o ser se sente ilha isolada no meio do anonimato da sociedade. há que erguer torres de vigia. há que alertar. há que observar, ampliar o pormenor, desbastar o caminho que incite a descoberta, que ponha em causa a simples aceitação tão-só por ser senso comum. há que permitir aos olhares serem lugares de embarque. certos de que os ocasos não são epílogos. mas sempre projecção de novos amanheceres.

não basta pensar!
quando se sente a pele ser grade do cárcere interior. quando se percebe haver uma película que tolhe a reflexão. quando se esbarra em voos amputados de horizonte. quando o viver é ferida que não sara. quando teimamos em não reconhecer que nos condenamos a presídios dentro de nós mesmos. há que procurar uma porta entreaberta, algumas barras mais espaçadas. há que desapertar a mordaça, a venda, a algema que embarga o voo. há que ouvir o segredo emudecido e vestir o gesto de seda, para que a brisa de uma nova alvorada sobre ele sopre.

não basta pensar!
quando os dias são incubadoras onde a evolução se suspende. quando o olhar se desfoca em florestas internas. quando a maturação se confina a um ciclo denso e artificial. quando não se vislumbra outra cor que não a da esperança. há que procurar a nitidez do olhar. dar-lhe de beber a luz. há que procurar o Verão das tonalidades. há que amadurecer as flores, os frutos, os aromas. há que estender o olhar. há que recuperar a vida na intensidade do que é espontâneo e natural.

não basta pensar!
há que soltar a voz. deixá-la ser grito. apelo. deslumbre. chamamento. provocação. inquietação. lavrar de fogo. instigar de emoção.

© João Costa