o gato invisível de tão preto que era

Luís Barata   –   Katie Lagast   –   Paulo Simão   –   Sara Hagins

 

Exposição coletiva de artes plásticas, patente na Galeria Santa Maria Maior de 17 de dezembro a 16 de janeiro, de segunda-feira a sábado, entre as 15h e as 20h.

 

Sinopse d’”o gato invisível de tão preto que era”

Porque é que o nosso olhar não é suficientemente rigoroso?

Porque é que a nossa mente nos trai na perceção da verdadeira realidade das coisas?

Olhamos para o objeto artístico, mas não conseguimos perceber o seu significado, ele é ausente, tentamos forçá-lo à nossa vontade ou será que, simplesmente, conscientes ou não, não o queremos ver?

O objeto artístico é matéria, mas ao mesmo tempo não o é.

É falso. É uma janela para outra realidade, uma sobreposição de condições. O metafísico sobre o físico. É o resultado ele próprio de um processo de observação e de seleção da realidade por critérios que não são necessariamente justificáveis ou sequer válidos. Aquilo que interessa ao artista no plano físico não ressoa na observação “comum”, emerge antes de uma constante tensão entre as subjetividades do ser banal e da procura do seu significado. Como consequência, o que daí se materializa são existências não visíveis, escondidas nas entranhas.

São tão cinzentas quanto os seus entornos cinzentos, tal como o gato é tão preto quanto o seu entorno.

Apenas quando conseguimos subtrair alguma parte deste organismo e a colocamos num ambiente distinto ela readquire outra forma e se torna novamente visível aos olhos do observador.

O propósito desta apresentação é antes de mais a criação de um corpo de trabalho coletivo e diverso onde os objetos artísticos não estejam condicionados à construção de uma narrativa fechada. A ambiguidade dos objetos apresentados, bem como a sua abertura a questionamentos e leituras, cria a possibilidade de múltiplas experiências, tangíveis e genuínas.

Um refletir sobre o que está fora do visível e que se materializa no reflexo e no impercetível.

São estas histórias por construir que queremos contar.

Como visualizamos um gato preto invisível?

Coloquemo-lo num contexto diferente e ele se revelará inequivocamente. Sejamos nós próprios o gato preto.

 

 

Sinopse dos artistas:

 

“The Observer Effect”, Luis Barata

A abordagem que fazemos à realidade que nos envolve é sobretudo sustentada na observação. É este par de olhos que nos permite tanto avaliar a possibilidade do que considerarmos ser verdade como do que não o é. Parece um jogo de uma dualidade simples e desarmante, sem qualquer risco de falhar. No entanto, tal como qualquer outro mediador, a observação transporta, em si mesma, mais omissões que constatações, falhas e desvios de leitura, subjetividades, dá-nos um quadro tragicamente incompleto, um processo que se revela interferente e manipulador ao invés do que julgamos ser aparentemente passivo, contemplativo ou objetivo. Observar tem o sentido contrário. Observar é, consequentemente e substantivamente, ser-se o Observado.

 

 

“Cabinet of Curiosities”, Katie Lagast

A peça central que aqui é apresentada deriva em parte de pedras recolhidas em caminhadas e reunidas numa espécie de coleção. Como um vagabundo que deambula pela cidade. Estas pedras foram convertidas em objetos de porcelana sobre os quais são aplicados padrões que podemos identificar como oriundos das técnicas tradicionais de pintura de azulejo, e que lhes conferem um carácter valioso e elegante, contrastando com a sua banalidade original. O dispositivo final pretende mimetizar um gabinete de curiosidades no qual todas as “pedras” são apresentadas em conjunto, estimadas como verdadeiros tesouros.

 

 

“Home and Away”, Paulo Simão

Partindo de duas imagens estereoscópicas, da paisagem na Palestina em 1915, encontradas no arquivo digital da Biblioteca do Congresso Americano, somos convocados para uma reflexão sobre a ideia de lugar e de pertença, a olhar para a zona de fronteira israelo-palestiniana, onde cresce um muro de betão e de intolerância, para a condição de território ocupado, de prisioneiro no seu próprio território, para a história ou para o medo, provocado pela ameaça constante de destruição por parte dos países vizinhos. E é através deste jogo de luz e sombras, de uma neutralidade desconcertante que de longe olhamos para os dois lados do muro, os dois lados da mesma cidade, com os seus bairros residenciais e as suas casas com os muros que as protegem ou não…

 

 

“From the Apocalypse with Love”, Sara Hagins

Este trabalho desenvolve-se em torno dos conceitos de natureza e de equilíbrio. A peça apresentada é composta por elementos de materialidade e densidade muito distintas numa constante procura de equilíbrio. São materiais exclusivamente orgânicos e naturais, como o papel reciclado e a seda, tingida com pigmentos extraídos de plantas e animais. Existem ainda na composição dois “balões” construídos em betão leve. Todos os elementos são mantidos no lugar e em equilíbrio através da sua fixação com arame e tubos de metal. O desenho é uma exploração das potencialidades do betão como material plástico. A ideia central implícita na peça é a de fazer o espectador refletir na generosidade dos recursos existentes na natureza, mas ao mesmo tempo no contraponto, o ser necessária paciência e respeito no modo como com ela lidamos. Deste jogo de pesos resulta o equilíbrio, caso contrário tudo se desmorona.

 

 

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