Outro jardim interior

Luísa Ferreira | António Faria

A exposição Outro jardim interior é composta por um conjunto de trabalhos de fotografia e desenho, de Luísa Ferreira e António Faria, respetivamente. Ao escolherem o mesmo espaço para ser habitado pelas suas obras, os artistas pretendem criar um diálogo no qual o todo se manifeste maior da soma das partes.

Inaugura a 7 de setembro, quinta-feira, pelas 18h00, na Galeria Santa Maria Maior. Patente até 30 de setembro.

Sabemos agora que estamos longe de uma compreensão do universo que habitamos e que nos falta dele uma imagem total. No desejo de um entendimento racional do mundo, a ciência prescindiu primeiro dos nossos sentidos enganadores e entregou depois o seu futuro ao artifício de certos algoritmos particularmente eficientes. Neste contexto, a arte, mesmo quando recorre a dispositivos tecnológicos, é um fenómeno da ordem do arcaico. Ao longo do devir humano, ela foi, é e será sempre um fazer que depende da aliança mágica entre o olho e o espírito. E destina‐se permanentemente aos nossos sentidos e ao enigma supremo da consciência. Por isso, independentemente de se tratar de desenho, fotografia ou instalação, o que se apresenta nesta exposição pretende, apenas, abrir um espaço de fruição e inteligência oblíqua do real. Tomando a natureza como pretexto de trabalho, ela transforma‐se em cada gesto ou em cada instante numa fonte inesgotável de criação e não num objeto sujeito ao nosso escrutínio. Trata‐se de abrir uma clareira, um jardim, que permita um diálogo entre modos diferentes de olhar a natureza e de a tornar presente. Espera‐se, por isso, que o acordo gerado pelo olhar do espectador vá muito além do simples reconhecimento das formas do mundo, pois tal como a natureza, também a arte releva do silêncio e da impassibilidade, onde nada verdadeiramente acontece para lá do acontecer da própria arte. Como se fosse um espelho, obscuramente.
Ricardo Castro Ferreira