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30/10/2024
ANTÓNIO CABRITA VENCE A 2ª EDIÇÃO DO PRÉMIO LITERÁRIO ARMANDO BAPTISTA-BASTOS
O poeta e romancista António Cabrita foi o vencedor da 2ª edição do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos, da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, com o romance Se não me quiseres amar agora no inverno, quando?, que será editado em Portugal em 2025.
O Presidente da Junta de Freguesia, Miguel Coelho, reforça que este prémio literário é uma forma de evidenciar uma grande figura da nossa cultura que se expandiu a partir do território de Santa Maria Maior, Armando Baptista-Bastos. A iniciativa da Junta, além de “homenagear um autor de Alfama, que mais e melhor escreveu sobre Lisboa, grande escritor e cronista”, tem a finalidade de incentivar a escrita, “promover a literatura e criar incentivos para que as pessoas procurem os livros e leiam autores da língua portuguesa”.
“Esta segunda edição do prémio enche-nos de júbilo por duas razões: porque aumentou o número de candidatos e porque tivemos a sorte (e não sabíamos – evidentemente) de premiar um nome importante da literatura portuguesa”, refere Manuel Alberto Valente, editor e presidente do júri. Com efeito, o vogal do Executivo da Junta com o pelouro da Cultura, também ele membro do júri e autor publicado, Ricardo Gonçalves Dias, destaca “o privilégio de ter como vencedor um autor bastante premiado, que nos trouxe uma obra de qualidade exímia” que inclui “memórias de Lisboa, da sua periferia”, o que contribuirá para “honrar o prémio, a freguesia e promover a sua terceira edição”. Integraram ainda o júri as escritoras Dulce Maria Cardoso e Maria João Cantinho e o jornalista José Ferreira Fernandes.
O vencedor desta segunda edição, António Cabrita, “muito feliz e grato” com a distinção e com a coincidência temporal que antecede o seu regresso a Portugal e – anunciando a publicação do romance premiado já em 2025 – destacou a importância das iniciativas que procuram evidenciar e distinguir a produção literária em língua portuguesa.
Para a família, nas palavras de um dos filhos do patrono, Miguel Baptista-Bastos, este prémio literário foi “o ato e ação mais importantes, após a morte, que aconteceram na família”.
Este meu livro, Se não me quiseres amar agora, no Inverno, quando?, funciona, em relação aos outros dois livros, como o negativo para as fotografias analógicas. Em vários sentidos, por exemplo, nos outros dois o que se recorta é a força dos personagens, este é uma longa e digressiva desbunda do narrador, em balanço de vida, e os personagens aparecem como figurantes especiais.
E há dois focos nesta narrativa: por um lado quis incidir nas incidências de vida e de formação que me levaram a ser um leitor, talvez um poeta, e posteriormente um narrador; depois, tive a ambição, aqui, sim, insensata, de que este relato saísse de um âmbito doméstico para se tornar um relato mais geracional de uma juventude periférica que cresceu com o marcelismo e se tornou adulta em dupla velocidade com a euforia dos anos pós-25 de Abril. E tudo isto fará mais sentido se nos lembrarmos, como dizia o Deleuze, que «Escrever não é contar as lembranças, as viagens, os amores, os lutos, sonhos e fantasmas. Ninguém escreve com as suas neuroses. (…) A literatura só se afirma se descobre sob as aparentes pessoas a potência de um impessoal.» Espero não ter falhado muito o alvo.
Vi o anúncio do prémio, tinha o livro na gaveta, mas não me decidi logo. Nessa noite, apareceu-me o BB num sonho; estávamos na minha varanda. Mordiscávamos um queijo e abrimos uma garrafa de Audácia, uma boa pomada sul-africana. E debatemos as minhas dúvidas. Que ele derrotou com um último argumento: Eu sei que tu vais regressar definitivamente a Portugal em 2025, e sei que pelo menos nestes três livros tu és, como eu fui «um escritor de bairros», e por isso deixa-me ao menos patrocinar-te o contentor para levares os teus livros contigo.
O argumento dele calou fundo em mim. E aqui estou eu agora a agradecer ao BB. A minha biblioteca está a salvo.
António Cabrita, discurso de aceitação do prémio
DISCURSO DE RECEÇÃO DO PRÉMIO LITERÁRIO ARMANDO BAPTISTA-BASTOS | ANTÓNIO CABRITA
Nota justificativa do júri
Relevando a pertinência da sua criação, a segunda edição do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos, promovido pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, rececionou cerca de 40 candidaturas – duas delas provindas do Brasil.
Reunido a 22 de outubro na sede da Junta de Freguesia, o júri, composto pelos escritores Dulce Maria Cardoso, Maria João Cantinho, José Ferreira Fernandes, Ricardo Gonçalves Dias e Manuel Alberto Valente, na qualidade de seu Presidente, deliberou, por unanimidade, distinguir na segunda edição do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos a obra Se não te amar agora, no inverno, quando?, remetida pelo pseudónimo Hamlet q.b.
Procedeu o júri à abertura do respetivo envelope que continua os dados pessoais, sendo o vencedor da segunda edição do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos o escritor e poeta António Cabrita.
Nota biográfica
António Cabrita é romancista e poeta, antes jornalista, por 23 anos, e editor (Fim de Século e Íman Edições). Nascido em Almada, em 1959, estudou cinema, foi guionista e colaborou com o Expresso, como crítico e jornalista, entre 1988 e 2004. Estreou-se como poeta em 1979, com a publicação de um volume na editora de Al Berto. Tem uma vasta obra publicada, com destaque para a poesia, onde reúne parte substancial do seu trabalho no volume Arte Negra (Fenda, 2000). Foi diretor da revista Construções Portuárias e escreveu inúmeros filmes, incluindo Inferno (2002) um guião sobre Camilo Castelo Branco, em parceria com Maria Velho da Costa. Tem uma extensa obra publicada em Portugal, no Brasil e em Moçambique, onde vive desde 2005.
Ensina dramaturgia e teoria prática de guiões e tem vindo a publicar ensaios, livros de contos, romances e volumes de poesia. Tem também uma coluna no jornal Hoje Macau. Escreveu inúmeros filmes. De entre os seus livros, destacam-se: Bagagem não Reclamada, Anatomia Comparada dos Animais Selvagens (Prémio PEN Clube 2018) e A Kodak faliu. também Dick, o cão da minha infância (2020) no campo da poesia; os romances A Maldição de Ondina (2013, finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa – C. M. Póvoa de Varzim 2013), Éter (2015, finalista do Prémio PEN Clube 2016), A Paixão segundo João de Deus (2019), e Fotografar contra a luz (2020). Mais recentemente escreveu as crónicas ensaísticas Tecto, para andar ao relento (2022). Como tradutor, realça-se a sua antologia de poesia hispânica, As Causas Perdidas (2020).
Regressará em definitivo a Portugal em 2025, ano em que vai editar dois novos livros, um deles o romance vencedor do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos, Se não me quiseres amar agora no inverno, quando?.
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As candidaturas para a 2ª edição do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos decorrem entre 1 de fevereiro e 31 de maio de 2024. O Prémio Literário Armando Baptista-Bastos foi criado a 26 de outubro de 2022, no Dia da Freguesia. Trata-se de uma homenagem ao jornalista, escritor, cronista e olisipógrafo de coração, que viveu muitos anos em Alfama e embrenhou-se na vida e nas histórias deste bairro de Santa Maria Maior. Com esta iniciativa, a Junta de Freguesia pretende não só honrar a memória de Armando Baptista-Bastos, mas os próprios bairros e a cidade de Lisboa.
À semelhança da primeira edição, as obras a concurso devem ser inéditas e escritas em língua portuguesa, no domínio da prosa de ficção (romance ou novela), com um mínimo de 150 mil caracteres e submetidas de acordo com o estipulado em regulamento. Ao vencedor, anunciado no Dia da Freguesia 2024, será atribuído um prémio no valor pecuniário de 3 500€.
Submissão de candidaturas por correio registado sob pseudónimo, contendo 5 exemplares impressos, e num envelope à parte a identidade do autor (nome, morada e contactos), para a morada do edifício-sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, sita na Rua da Madalena nº 151 R/C 1100- 319 Lisboa. Não serão consideradas as candidaturas que não respeitem o Regulamento do Prémio Literário Armando Baptista-Bastos, que sejam remetidas por vias alternativas ou fora dos prazos de candidatura estipulados.
Manuel Alberto Valente [Presidente] | Escritor e editor
Manuel Alberto Valente nasceu em novembro de 1945, em Vila Nova de Gaia. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, fez uma breve passagem pelo jornalismo, mas foi ao meio editorial que dedicou toda a sua vida.
Enquanto editor, passou pelas editoras Dom Quixote (1981-1991), pela Asa (1991-2008) e pela Porto Editora.
Como autor, além de colaborar em diversos órgãos da comunicação social (neste momento é cronista do semanário Expresso, relatando episódios e memórias da sua vida de editor), publicou quatro livros de poesia: “Cartas para Elina” (1966), “Viola Interdita” (1970), “Os Olhos de Passagem” (1976) e “Sete (Desen)Cantos” (1981), estando representado em diversas antologias nacionais e internacionais.
Em 2008, foi condecorado pelo governo francês com o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e em julho de 2021 foi agraciado com a Ordem de Isabel a Católica pelo Reino de Espanha “por toda a sua relevante trajetória e apoio aos autores e, em geral, à literatura em espanhol”.
Dulce Maria Cardoso | Escritora
Dulce Maria Cardoso nasceu em Trás-os-Montes, em 1964. Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa. Publicou em 2001 o seu primeiro romance, “Campo de Sangue” (Prémio Acontece, escrito na sequência de uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura). Desde então publicou os romances: “Os Meus Sentimentos” (2005, Prémio da União Europeia para a Literatura), “O Chão dos Pardais” (2009, Prémio PEN Clube Português e Prémio Ciranda), “O Retorno” (2011, Prémio Especial da Crítica e livro do ano dos jornais Público e Expresso) e “Eliete” (2018, livro do ano no Público, Expresso e no JL, Prémio Oceanos e finalista do Prémio Femina).
É autora de duas antologias de contos: “Até Nós” (2008) e “Tudo São Histórias de Amor” (2014). Em 2014 foram publicados os seus primeiros dois livros infantis, na coleção “A Bíblia de Lôá”.
A sua obra é estudada em universidades de vários países, tendo sido objeto de várias teses académicas. Dulce Maria Cardoso tem contos e romances adaptados ou em fase de adaptação para o cinema e teatro.
Os seus romances estão traduzidos em várias línguas e publicados em mais de duas dezenas de países. A tradução inglesa de “O Retorno” recebeu, em 2016, o PEN Translates Award.
Em 2012, foi condecorada com as insígnias de Cavaleira da Ordem das Artes e das Letras da França. Assina, na Visão, a coluna “Autobiografia não autorizada” (crónicas publicadas em livro, em 2021 e 2023).
Maria João Cantinho | Poeta, crítica literária e ensaísta
Maria João Cantinho nasceu em Lisboa, em 1963, e viveu a sua infância em Angola. Regressou em 1975 a Portugal onde estudou Filosofia, na Universidade Nova de Lisboa. Mestre em Filosofia com a dissertação “O Anjo Melancólico” (1997) e doutorada com o título “Walter Benjamin, Melancolia e Revolução: a história secreta” (2011).
Atualmente é professora no ensino secundário e foi Professora Auxiliar no IADE entre 2011 e 2015. Membro integrado do Centro de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa (desde 2012), Membro Associado do Collège d’Études Juives et de Philosophie Contemporaine, é também Membro da Direção do Pen Clube Português, da Associação Portuguesa de Escritores, da Associação Portuguesa de Críticos Literários e do Conselho Editorial do Caderno do Grupo de Estudos Walter Benjamin. Colabora regularmente com a Revista Colóquio-Letras, com o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, e em diversas revistas literárias e académicas. Publicou várias obras de ficção, poesia e ensaio e tem diversas publicações em antologias de poesia.
Ferreira Fernandes | Jornalista, cronista e autor publicado. Cofundador da Mensagem de Lisboa
Ferreira Fernandes nasceu em Luanda, em 1948. É um dos mais reputados jornalistas portugueses, tendo colaborado com o Diário de Notícias (do qual foi diretor), Público, Diário Popular, Visão e Sábado, entre outras publicações. Recebeu diversos prémios de reportagem, entre os quais o prémio Bordalo — Jornalista do Ano (Casa da Imprensa) e o prémio Jornalista do Ano (Clube de Jornalistas do Porto).
É autor dos livros “Frases que Fizeram a História de Portugal” (coautor, 2010), “Os Primos da América” (2012), “Lembro-me Que” (2014) e “As Eleições que Ninguém Queria Ganhar” (2015). No ano passado, publicou as “Crónicas de Lisboa”, “O Cais da Europa: Roger Kahan, refugiado, fotógrafo – Lisboa, 1940” e “Martim Moniz – Como o desentalar e passar a admirar”. Atualmente dirige um jornal digital local, a Mensagem de Lisboa.
Ricardo Gonçalves Dias | Pelouro da Cultura na Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. Autor publicado
Ricardo Gonçalves Dias nasceu em 1994, em Lisboa. Licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais na NOVA FCSH. É mestrando em Ciência Política, no ISCTE, e pós-graduando em Psicologia Política na Universidade Lusófona. Integra o Executivo da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior desde 2017, assumindo desde logo o pelouro da Cultura.
Em 2013, venceu o Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian com a obra “O primeiro país da manhã” e, em 2015, o Prémio Jovens Criadores na área da Literatura. Publicou, em 2023, a obra “Marcha de Alfama – A história da força de quem canta”, onde cruza a história deste “fenómeno cultural” que é “o motor sentimental do bairro” com a vida de um dos bairros mais antigos de Lisboa, num livro que, pela primeira vez, descreve o percurso de uma Marcha Popular.
Armando Baptista-Bastos nasceu na Ajuda, em 1934. Veio a falecer em 2017, aos 83 anos. Foi jornalista, cronista, romancista e ensaísta, escritor de referência a quem o também jornalista Adelino Gomes atribuiu um “estilo inconfundível”. Viveu grande parte da sua vida em Alfama, intitulou-se “um homem dos bairros” e foi dos maiores olisipógrafos do séc. XX, com vasta obra sobre a cidade. Foi inclusivamente Presidente da Comissão Administrativa de São Miguel imediatamente após o 25 de Abril.
Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio. Durante a adolescência, foi aprendiz de diversos ofícios: tipógrafo, torneiro mecânico, marceneiro, empregado de drogaria e empregado de confeitaria. Foi com o pai que descobriu o gosto pela escrita e pelo jornalismo e, com 14 anos, escreveu a sua primeira crítica social para O Diário Popular. Aos 19 anos, iniciou o percurso jornalístico no jornal O Século, chegando a subchefe de redação d’O Século Ilustrado, onde inicia um estilo inovador e polémico, com a coluna de crítica “Comentário de Cinema”.
Aos 25 anos publicou o primeiro livro O Cinema na Polémica do Tempo. Em 1969, lança As Palavras dos Outros, considerado por Fernando Dacosta uma “referência obrigatória”. A convite do Público, realizou algumas entrevistas sob o mote “Onde é que você estava no 25 de Abril?”, expressão que perdura no tempo.
Baptista-Bastos trabalhou no Diário Popular durante mais de 20 anos, foi cronista em diversos jornais, o Jornal de Notícias, A Bola, Tempo Livre e crítico no Jornal de Letras, Artes e Ideias, Expresso, Jornal do Fundão e Correio do Minho. Foi colunista do Público e do Diário Económico. Fundou o semanário O Ponto, que marcou a época, com a realização de 80 entrevistas. Na rádio, leu crónicas na Antena Um e na Rádio Comercial e foi o primeiro comentador das “Crónicas de Escárnio e Maldizer” da TSF. Fez os programas “Conversas Secretas” e “Cara-a-Cara”, na SIC.
Ficou conhecido como um homem de esquerda. Envolveu-se na “Revolta da Sé” e consequentemente foi despedido d’O Século. Foi nesta altura que conheceu Fernando Lopes, com quem trabalhou no filme Belarmino e para quem escreveu textos para noticiários e documentários da RTP. Trabalhou no Brasil durante o golpe de Estado que despoletou a ditadura militar brasileira, fazendo a cobertura para o jornal República, que é censurada.
É autor de mais de duas dezenas de livros A Bolsa da Avó Palhaça, A Cara da Gente, As Bicicletas em Setembro, Cão Velho entre Flores, A Colina de Cristal, O Cavalo a Tinta-da-China e No Interior da Tua Ausência.
Foi distinguido com inúmeros prémios: Feira do Livro (1966), Prémio Artur Portela (1978), Prémio Nacional de Reportagem/Prémio Gazeta (1985), Prémio Casa da Imprensa (1986), Prémio O Melhor Jornalista do Ano (1980 e 1983), Prémio Pen Clube (1987), Prémio Cidade de Lisboa (1987), Prémio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (2002), Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores (2003), Prémio de Crónica da Sociedade da Língua Portuguesa, João Carreira Bom (2006) e o Prémio Clube Literário do Porto (2006).