3ª Grande Corrida de Ano Novo
02/10/2024
Roteiro mauriciano que nos conduz num percurso pontilhado entre o coração de Alfama e a Mouraria fadista. Da palmeira à guitarra, passando pelo “cruzeiro do adro” da Igreja Santo Estêvão e pelo “sótão da Amendoeira”, de olhos postos no Tejo, pensando a cidade, conhecendo ou relembrando a vida e obra do Rei sem Coroa, Fernando Maurício.
Em cada ponto, um poema. Em cada poema, um Fado, uma relação com o espaço, uma pista sobre Maurício.
Lisboa Mauriciana é um projeto da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que presta homenagem ao Rei do Fado e que se complementa com o busto erguido em 2014 pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, na Rua da Guia, e com a Casa-Museu Fernando Maurício, equipamento cultural gerido pela Junta de Freguesia desde 2015.
Homenagear Maurício é homenagear o Fado e a cidade.
Nascido na Mouraria, o Rei do Fado foi muito para além do seu bairro. Eternizou a Igreja de Santo Estêvão, na vizinha Alfama, falou do Tejo, do próprio Fado e do ser-se fadista. Cantou amores e desamores, a boémia, fados de despedida, de saudade e nostalgia. Sobre o seu bairro cantou mais, em jeito autobiográfico, lembrando a infância e as agruras da vida. Sobre tudo, cantou com alma, cada palavra de cada poema que elevou com a sua voz.
Fernando Maurício vive na memória coletiva e, agora, nas pedras da nossa calçada. Ao calcorrear a freguesia, atravessamos a vida e obra do fadista que viria a marcar gerações, deixando no Fado o seu legado. Fernando Maurício está em cada recanto de Santa Maria Maior e ainda mais presente no busto erguido na Rua da Guia e na Casa-Museu desta Junta de Freguesia que, no coração do bairro, na Rua João do Outeiro, apresenta a vida e obra que deixou.
Com o roteiro Lisboa Mauriciana convidamos a percorrer o território ao som de Maurício, num caminho que atravessa os bairros e o próprio Fado.
Miguel Coelho, Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior
Ao iniciar o percurso, sem ordem predefinida, o viajante mauriciano encontrará placas de chão com QR Code, cuja leitura remete para a informação respetiva ao ponto em que se encontra. O poema e o poeta, o Fado interpretado pela voz inconfundível de Fernando Maurício e a contextualização geográfica daquele ponto. Encontrará mais, sempre: o mapa do percurso, a ligação para a Casa-Museu Fernando Maurício e para a biografia do fadista.
Fernando da Silva Maurício. O Rei sem Coroa. Quem o disse foi o tempo, o mesmo que passou pela infância na Rua do Capelão até ao eco que se pegou à memória do Fado. Castiço, mas invulgar, carregou na voz o rosto do bairro. Da Mouraria, a sua, e não só – porque nas palavras que cantou está a cartografia de uma cidade que permanece em escuta.
No seu Fado, rente à alma, logo se vê o estilo que não se repete mas que foi capaz de criar escola. É um legado que tem o peso do povo e que dura como faz a história. Para entendê-lo é preciso mais do que ouvir: ir mais fundo, sentir o chão. Estar perto do princípio do espírito bairrista que nasce nas ruas, nos cantos e nos pormenores de cada bairro que estão nos versos a que a sua voz deu corpo. Corpo e vida ao legado imortal que deixou o rasto de um imaginário físico e que ainda passeia por esta cidade. A Lisboa Mauriciana que o maior fadista tradicional cantou até receber do tempo a coroação que veio do povo, não precisando da coroa para ser o rei do Fado.
Ricardo Gonçalves Dias, Vogal do Executivo
O MENINO QUE NÃO FUI
Nasci talhado de fado
Cresci no tempo a correr
Sem direito de sonhar;
Não parei no meu passado
Fui menino sem saber
E condenado a cantar
Tive a noite por guarida
Deram-me o fado, por pão
Por enxerga, a fria rua
Cresci á margem da vida
Ao lado da solidão
Coberto p’la luz da lua
Queria voltar a nascer
E sonhar um só momento
No meu mundo pequenino
Passou o tempo a correr
Não tive idade nem tempo
De brincar e ser menino
Mário Raínho